Na França dos anos 30, uma mulher matar um homem tinha um peso diferente dos dias atuais. Uma época em que o voto feminino ainda não era uma realidade e os homens dominavam com ainda mais presença em todos os cantos, as mulheres precisavam criar seus próprios caminhos para chegar aos seus objetivos, por meio da performance e do jogo de palavras. O Crime é Meu é uma sátira leve e divertida sobre temas antigos que se estendem até os dias atuais.

Uma Atriz e uma advogada desempregadas e prestes a serem despejadas se veem dentro de uma investigação sobre a morte de um grande produtor de filmes, e o que poderia ser o caminho para o fim de suas vidas se torna a oportunidade perfeita para traçarem seus destinos para uma vida melhor. Com o poder das palavras e da performance, Madeleine Verdier, a atriz e principal suspeita, assume a autoria enquanto convence a população francesa de sua mais pura ingenuidade e vulnerabilidade, a catapultando para a vida que sempre sonhara. Entretanto, o futuro não se torna um mar de rosas quando a verdade sobre o crime aparece anos depois cobrando suas dívidas.

Pode ser lido como uma ode ao teatro francês dos anos 30, já que o filme é uma livre adaptação da peça de mesmo nome de 1934, com um design de produção bom o suficiente para parecer antigo e moderno ao mesmo tempo. As atuações se destacam por serem pontualmente excêntricas, mas sem apelar para exageros ou muitos maneirismos, algo que só fica reservado a personagens chaves da trama.
A dupla principal conduz bem a história com duas jovens amigas falidas, Madeleine com sua beleza e voz suave, mas que não cede a uma ingenuidade boba, conseguindo ser doce e sugestiva quando necessário, e Pauline, sua melhor amiga, uma advogada que não consegue trabalho, mas que tem um traquejo social mais apurado devido a suas expertises em contra-argumentar e saber jurídico. Ainda no núcleo feminino, o destaque eu deixo para o papel de Isabelle Huppert, uma antiga atriz do cinema mudo que carrega consigo toda a atmosfera do teatro e a eloquência da elite artística da época, sem jamais cansar em tela. Já os homens, temos o policial encarregado da investigação e seu escrivão, uma dupla que funciona muito bem em seus diálogos carregados de sarcasmo e um tanto de burrice, destaque ao escrivão que mesmo sem dizer muito nos conta o que acha por meio de suas expressões ou pontuais comentários. Por fim temos Palmarède, um rico empresário que possui amigos em comum dentro da trama, não se destaca por nada em especial, mas seu personagem ganha pelo carisma e simpatia no decorrer que a trama engrena.
Mesmo que fale sobre assassinato, reputação, dinheiro e fama, O Crime é Meu é uma sátira divertida sobre o jogo de performance que existe entre as percepções sobre o que são as mulheres e os homens dentro da sociedade. Onde a verdade não importa e sim a melhor história a ser contada. Destaco negativamente a falta de desenvolvimento em alguns arcos e personagens, se monta algo, mas não finda em lugar algum e sua reta final, quando as coisas parecem esquentar elas terminam, mas talvez eu diga isso por querer ver mais das personagens e o desenrolar do que estava acontecendo. Acabou por surpreender em sua simplicidade.
O filme estreia dia 6 de julho nos cinemas.
Texto por Emídio Freitas