Alguns filmes chegam como um abraço caloroso, mas te pegam de surpresa com o impacto emocional que carregam. Sol de Inverno, dirigido pelo talentoso Hiroshi Okuyama, é exatamente esse tipo de obra. À primeira vista, parece ser uma história simples sobre sonhos e esportes, mas no fundo, é um mergulho profundo em temas como aceitação, identidade e a busca por pertencimento.

A trama segue Takuya (Keitatsu Koshiyama), um garoto tímido que luta contra sua gagueira e as expectativas dos outros. Enquanto seus amigos jogam hóquei, ele encontra seu refúgio na patinação artística, um espaço que não é exatamente “aceitável” para um menino de sua idade e contexto. Sua jornada se cruza com a de Sakura (Kiara Nakanishi), uma jovem talentosa de Tóquio, e Arakawa (Sosuke Ikematsu), um ex-campeão gay que agora treina jovens talentos. A relação entre os três forma o núcleo emocional do filme, criando uma dinâmica delicada, mas profundamente envolvente.
Hiroshi Okuyama constrói seus personagens com um cuidado que é raro de se ver. Takuya, Sakura e Arakawa são todos, de diferentes maneiras, deslocados em suas realidades. Takuya enfrenta a pressão de ser um “atleta estrela”, enquanto Sakura sente o peso de ser uma jovem promissora. Arakawa, por sua vez, carrega o peso de viver em um país que ainda não reconhece plenamente sua identidade. E é na patinação artística, esse universo tão visualmente deslumbrante, que eles encontram um espaço para se expressarem e, de alguma forma, se conectarem.

O filme tem momentos de pura poesia visual. Mas Sol de Inverno não se limita ao espetáculo visual. Ele vai além, explorando as dores, os desejos e as contradições de cada personagem. É um retrato sensível de como as expectativas de gênero e as normas sociais podem aprisionar, especialmente na juventude.
O que torna o filme ainda mais especial é a forma como ele aborda essas questões sem apelar para grandes melodramas. A direção de Okuyama é sutil, quase como se ele estivesse sussurrando a história para o público. Essa delicadeza, no entanto, não diminui o impacto emocional da obra, pelo contrário, ela o amplifica. É impossível não se sentir tocado por Takuya, que lentamente ganha confiança para ser quem realmente é, ou por Arakawa, cuja experiência de vida traz uma camada extra de complexidade à narrativa.

No final, Sol de Inverno é uma celebração da individualidade e da coragem de seguir um caminho próprio, mesmo quando tudo parece conspirar contra. É um lembrete poderoso de que, às vezes, é na gentileza e na sutileza que encontramos as histórias mais transformadoras. Um filme que vai aquecer seu coração, enquanto te desafia a refletir sobre como enfrentamos as expectativas, nossas e dos outros, no palco da vida.
O longa estreia dia 16 de janeiro nos cinemas.
Texto por Alan Dias.